sexta-feira, 28 de maio de 2010

Jogo da vida.

Uma vez, se reuniram todos os sentimentos, qualidades e defeitos dos homens em um lugar da terra. Quando o aborrecimento havia reclamado pela terceira vez, a loucura, como sempre tão louca, lhes propôs:

- Vamos brincar de esconde-esconde?

A intriga levantou a sobrancelha intrigada e a curiosidade, sem poder conter-se, perguntou:

- Esconde-esconde? Como é isso?

- É um jogo - explicou a loucura - em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu lugar para continuar o jogo.

O entusiasmo dançou seguido pela euforia. A alegria deu tantos saltos que acabou por convencer a dúvida e até mesmo a apatia, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos quiseram participar. A verdade preferiu não esconder-se:

- Para que, se no final todos me encontram? - Pensou ela.

A soberba opinou que era um jogo muito tonto porque não tinha sido ela quem havia criado e a covardia preferiu não arriscar-se.

- Um, dois, três, quatro... - Começou a contar a Loucura.

A primeira a esconder-se foi a pressa, que como sempre caiu atrás da primeira pedra do caminho. A subiu ao céu e a inveja se escondeu atrás da sombra do triunfo, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta. A generosidade quase não conseguiu esconder-se, pois cada local que encontrava, lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos: Se era um lago cristalino, ideal para a beleza. Se era a copa de uma árvore, perfeito para a timidez. Se era o vôo de uma borboleta, o melhor para a volúpia. Se era uma rajada de vento, magnífico para a liberdade. E assim, acabou escondendo-se em um raio de sol. O egoísmo, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cômodo, mas apenas para ele. A mentira escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atras do arco-íris) e a paixão e o desejo, no centro dos vulcões. O esquecimento, não recordo-me onde escondeu-se, mas isso não é o mais importante.
Quando a loucura estava lá pelo 999.998, o amor ainda não havia encontrado um lugar para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou uma rosa e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas flores.

- Um milhão! - terminou de contar a loucura e começou a busca.

A primeira a aparecer foi a pressa, apenas a três passos de uma pedra. Depois, escutou-se a discutindo com DEUS, no céu, sobre zoologia. Sentiu vibrar a paixão e o desejo nos vulcões. Em um descuido, encontrou a inveja e claro, pode deduzir onde estava o triunfo. O egoísmo, não teve nem que procurá-lo. Ele sozinho saiu disparado de seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas. De tanto caminhar, sentiu sede e ao aproximar-se de um lago, descobriu a beleza. A dúvida foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado esconder-se. E assim foi encontrando a todos: O talento entre a erva fresca, a angústia em uma cova escura, a mentira atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano) e até o esquecimento, que já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde. Apenas o amor não aparecia em nenhum local. A loucura procurou atrás de cada árvore, em baixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas. Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral. Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o amor nos olhos. A loucura não sabia o que fazer para desculpar-se. Chorou, rezou, implorou, pediu e até prometeu ser seu guia. Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na terra:

O AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha.

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